quinta-feira, 30 de abril de 2009

Sítio arqueológico é descoberto em Paraibuna

.Paraibuna arqueologi sítio arqueológico GASTAU Petrobrás
por Ursula Cristina Correa

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Durante o trabalho de limpeza do terreno do bota-fora 12, em Paraibuna (SP), a equipe do gasoduto Caraguatatuba-Taubaté (Gastau) encontrou um sítio arqueológico extenso. As peças são de origem atribuída aos índios tupis, provavelmente datadas entre os séculos XIII e XVI. A descoberta foi feita no início do mês de fevereiro e o trabalho de resgate deve se estender por 90 dias.
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O Professor José Luiz de Morais, diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (MAE/USP), instituição que desenvolve o Programa de Prospecção Arqueológica no Gastau, afirma que o sítio é denso e, aparentemente, muito importante. De acordo com o professor, as peças pertenciam a povos agricultores pré-coloniais do sistema regional de povoamento Tupi. Ele conta que sítios com esta densidade são bastante raros, porém a expectativa é de que, na região, ainda sejam descobertos novos sítios, já que essa é uma característica da Bacia do Rio Paraíba do Sul.

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No local foram encontrados fragmentos de cerâmica (argila moldada em forma de vasilhas e queimadas para adquirir consistência) e objetos de pedra lascada e polida, além de um fragmento de lâmina de machado polida.

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A partir de agora o trabalho consiste na escavação e resgate de materiais. A expectativa é encontrar núcleos de solo antropogênico que correspondem ao local das casas da aldeia e possivelmente outros fragmentos. Existe a possibilidade de montagem de vasilhas e outras peças.

O sítio será resgatado nos termos do projeto aprovado pelo Instituto Patrimonial Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e os materiais serão analisados no laboratório do MAE/USP. Paralelamente, acontecerão atividades de Educação Patrimonial voltadas ao estudo e trabalho da obra. Ao final dos trabalhos, será organizada uma coleção expográfica (coleção de materiais que pode ser usada em exposições), a ser oferecida à Prefeitura de Paraibuna para exposições e atividades didáticas.
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Fotos: Bruno Kelly

Notícia publicada por Marco Antônio Pessoa Veloso de Almeida em 23 de março de 2009, na Sala de Notícias, órgão de divulgação da Engenharia da Petrobrás. Reprodução autorizada pela AGCOM.

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domingo, 26 de abril de 2009

as intermitências da morte

intermitências da morte josé saramago paraibuna cemitério

José Saramago, em seu romance As Intermitências da Morte, apresenta esta magoada com a injustiça humana a seu respeito e que, se ausentando, acaba por criar situações insólitas mas, ainda assim, divertidas.

Em certo momento os moribundos, impedidos de alcançar o descanso eterno, organizam uma passeata de protesto onde, à frente, carregam uma faixa enorme com os dizeres "Nós que tristes aqui vamos, a vós todos felizes esperamos".

A frase, embora parecida com aquela do pórtico do cemitério de Paraibuna - "NÓS QUE AQUI ESTAMOS POR VÓS ESPERAMOS", tem sentido diverso.

No texto de Saramago, a palavra "Nós" se refere aos moribundos, tristes já por não poderem descansar, e a palavra "vós" se refere à morte, a quem todos esperam, e felizes estariam com sua chegada.

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Foto: autor desconhecido

domingo, 15 de março de 2009

Para aí, buna!

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por Beatriz Cruz


No meu tempo de escola, ao acabar o primário, tínhamos que prestar um exame para entrar no ginásio. O primário tinha quatro séries e o ginásio outras quatro.

Enquanto cursava o quarto ano, muitos colegas faziam um cursinho por causa deste exame e eu queria também. Mas mamãe achou que eu não faria direito nem uma coisa nem outra. No final do ano, gente mais atrasada do que eu entrou no ginásio! Indignada, me inscrevi para a segunda época – isto é, outro exame em fevereiro. Tive aulas particulares de matemática e português, estudei durante as férias inteiras.

Chegado o grande dia, fui nervosa para a escola. Antes de entrar na sala, olhei a lista dos candidatos e nela constava um Índio Tupinambá Americano do Brasil. Achei estranho. Fiquei observando todos os meninos, mas não vi nenhum índio por ali. Imaginei um garoto vestido de tanga, com a cara pintada...

Primeiro, tivemos que fazer uma pequena redação. Depois, descabelei-me com os problemas de Matemática. Com mais segurança, fui respondendo as perguntas sobre História do Brasil e Geografia. Um pouco antes de terminar, porém, empaquei na última questão: “Escreva tudo o que sabe sobre o rio Paraíba”.

Pensei, pensei e de nada me lembrei. Que coisa horrível essa Geografia! Deixei a resposta em branco.

Acabei sendo aprovada, mas quase levei uma surra de mamãe. Como é que não me lembrava daquele rio? Por acaso tinha me esquecido dos piqueniques que fazíamos às suas margens, naquela prainha tão gostosa? E de tudo o que ela repetia toda santa vez que por ali passávamos?...

... Que o rio era formado ali perto por dois outros - o Paraitinga, que vinha lá de São Luiz, e o Paraibuna, o mesmo nome daquela cidade do cemitério onde os defuntos por nós esperavam?... Aquele nome que a gente gostava de dizer “Para aí, buna!”, sugerindo outra coisa?...

...E que tornado Paraíba ele banhava toda a nossa região, o importante Vale do Paraíba? E que por sua causa víamos tantos arrozais por aqui?...

Para aí, menina. Presta atenção!

texto publicado em 15 de março de 2009 em http://www.usinadeletras.com.br/

Foto: Nelson Wisnik

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A descida da serra

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por Beatriz Cruz



Férias em Caraguatatuba demandavam preparativos especiais. Era preciso levar tudo. Até comida. Lá não se encontrava leite fresco com facilidade, nem carne bovina. Nos pobres mercadinhos o que havia mesmo era peixe em profusão. E bananas. Carregávamos, então, um sortimento de latas de leite condensado. E sacos de arroz, feijão, farinha, batata, café...

Tudo isto, mais roupas de cama, toalhas de banho, malas, bolas, bicicletas... Não cabia no carro. A enorme bagagem e algumas crianças seguiam num jipe com reboque atrelado.

Até Paraibuna a viagem transcorria calmamente, o único susto acontecia diante do cemitério da cidade. Já conhecíamos os dizeres acima do portão, mas quando ali passávamos líamos em voz alta, com entonações soturnas: “Nós que aqui estamos por vós esperamos”. Achávamos que os fantasmas não gostavam de crianças contentes a caminho da praia. Tínhamos certo receio de que nos seguissem, invisíveis...

Logo adiante, já nos esquecíamos deles ao parar numa prainha à beira do rio. Era a hora do pique-nique. Comíamos sanduíches e brincávamos um pouco com as mãos na água fria.

A pausa não podia se alongar, tínhamos chão pela frente. O pior trecho a transpor, a descida da serra.

As curvas causavam transtornos a todos. O motorista devia ficar muito atento. As crianças se jogavam umas por cima das outras a cada virada. E davam risadas estridentes. Ou então brigavam.

Em meio à balbúrdia, alguns enjoavam. Era preciso parar e colher folhas de erva-cidreira. Apertadas nas mãos, elas exalavam um perfume gostoso que acalmava estômagos. Mas cortavam os dedos!

Logo nos distraíamos olhando a paisagem. O Pico do Papagaio sempre nos impressionava. Depois, prestávamos atenção para ver quem seria o primeiro a enxergar o mar lá em baixo. Quando o descobríamos, que maravilha!

Alguns carros nos ultrapassavam e nestas horas uma nuvem de poeira se formava. Rodávamos depressa as manivelas para levantar os vidros. Tia Maia, que às vezes ia conosco, usava máscara para proteger o nariz. Deste modo, chamava a atenção e nós achávamos engraçado o olhar espantado das pessoas. Se fosse hoje em dia, pensariam que escondíamos um ET.

Para aqueles que iam no jipe, nada a fazer, a poeira entrava por todos os lados. A diversão era ver cabeças morenas se transformarem em loiras. Fazíamos também um concurso e ganhava quem tirava do nariz a bolota de barro mais perfeita.


Terminada a viagem, batíamos nas costas dos outros só para ver um pozinho se levantar.

Sempre, ao chegarmos ao alto da serra, mamãe nos contava da sua primeira viagem ao litoral. Ela dizia que a estrada, mais precária ainda, terminava ali, onde alguns homens acompanhados de cavalos aguardavam os passageiros. Quem quisesse chegar à beira-mar tinha que seguir montada no lombo dos animais. Crianças pequenas iam ao lado das mães, dentro de cestos de vime.

E a caravana descia a serra, lenta e cuidadosamente, por trilhas no meio da mata.

publicado em 17 de setembro de 2007 em http://www.usinadeletras.com.br/

Foto: Nelson Wisnik
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domingo, 8 de março de 2009

o recado

Paraibuna

Em 1998, inspirado no recado que emoldura a entrada do cemitério de Paraibuna, "NÓS QUE AQUI ESTAMOS POR VÓS ESPERAMOS", Marcelo Masagão dirigiu o documentário de nome "Nós que aqui estamos por vós esperamos", no qual expõe os conflitos entre a esperança, a loucura, o desenvolvimento tecnológico, as duas grandes querras.

O filme traz imagens do século XX mas bem pode ter continuidade com imagens mais recentes de guerras persistentes, o risco advindo do aquecimento global, a derrocada da economia globalizada.

Em 1999 o filme foi premiado no Festival de Gramado (melhor montagem) e no Festival do Recife (melhor filme, melhor roteiro e melhor montagem).

A ficha técnica do filme, os personagens e suas histórias, artigos e textos publicados a seu respeito, podem ser acessados ativando o link do filme em "Visite" na barra de menu deste blog.

Algumas partes do documentário podem ser assistidas ativando os ícones em "o documentário" no menu ao lado.

Foto: Nelson Wisnik Paraibuna

domingo, 1 de março de 2009

o nível do reservatório da UHE Paraibuna

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O gráfico ilustra a evolução temporal do nível do reservatório da UHE Paraibuna.

No eixo horizontal está representada a cronologia dos eventos desde outubro de 2001.

A precipitação média de longo prazo é ilustrada através das colunas na côr cinza, enquanto que a precipitação observada a cada mês está representada através das colunas na côr azul. A escala da intensidade das chuvas está representada na lateral esquerda do gráfico.

A linha em vermelho representa o nível do reservatório de Paraibuna, percentualmente em relação ao seu volume útil total, e sua escala está representada na lateral direita do gráfico.

Simplificadamente, pode-se observar que em 2002 e 2003 as chuvas ocorreram em antecipação e em menor intensidade que a média, tendo por consequência o baixo nível do reservatório.

De 2004 a 2006 as chuvas chegam a superar a média promovendo a recuperação do nível do reservatório, que novamente se reduz em 2007.

As fortes chuvas em 2008 e neste início de 2009 recompõem o nível do reservatório, que se encontra atualmente com 79% da sua capacidade.

Fonte: INPE

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histórico de chuvas em Paraibuna

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O gráfico ilustra a incidência de chuvas na região de Paraibuna nos últimos dois anos.

No eixo horizontal, da esquerda para a direita está representada a cronologia dos eventos, iniciando em fevereiro de 2007. A última coluna à direita representa a incidência de chuvas no mês de fevereiro de 2009. O pequeno retângulo laranja quantifica a chuva do dia 28.

A altura de cada coluna, mensal, é proporcional à precipitação de chuvas observada em cada mês, medida em "mm" (milímetros). Cada milímetro de precipitação é equivalente a um litro de água de chuva por metro quadrado ao longo do mês.

A linha cinza com pontos em cada mês ilustra a precipitação medida em longos períodos, ou seja, a precipitação média esperada para cada mês, servindo de parâmetro de "normalidade". Pode-se observar que nos meses recentes de novembro e dezembro as chuvas foram acima da média de longo prazo.

A incidência de chuvas resulta diretamente no nível do reservatório da UHE Paraibuna e na sua capacidade de manter a produção de energia elétrica "firme".

Fonte: INPE

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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O Coreto, ontem e hoje

Paraibuna
por Célio de Abreu


Quando foi construída a Igreja de Santo Antônio, a qual conhecemos hoje isto é, em 1886, não havia nada em frente, havia apenas um imenso terreiro, o qual era popularmente conhecido como ‘pátio’, denominação que até hoje ainda se usa para designar os pátios das escolas.


Foi somente na primeira metade do século XX, no ano de 1927, que o então prefeito municipal, o senhor Joaquim Lopes Chaves de Alvarenga construiu a praça com jardim e coreto.

A praça da Matriz calçada, iluminada e com coreto para apresentações musicais, passou a servir como local preferido para os encontros sociais e familiares.

Sabemos que no século XIX estes encontros sociais na zona urbana se restringiam há poucos dias por ano, batizados, casamentos, procissões. A praça passou ainda a receber vários bancos de madeira e jardins gramados e adornados com flôres.


O coreto servia principalmente para as apresentações das Corporações Musicais, as famosas ‘bandas’, como eram carinhosamente conhecidas.

Os comícios eleitorais também se realizavam deste coreto, bem como apresentações de músicos de outras localidades.



O projeto original de 1927 perdurou por alguns anos, não sabe ao certo, mas com o passar do tempo, as próximas administrações municipais foram fazendo novas modificações até a completa descaracterização em meados da década de 1970.

Foi somente em 1989 que novamente passou por outra reforma com o objetivo de trazer as características originais de volta a velha praça.

Houve no entanto quem desaprovasse alguns itens desta reforma, questionando-se a não similaridade com o projeto original de 1927. As muretas que emolduravam o gramado e o coreto eram bem mais altos a que encontramos hoje.

As luminárias com globo de vidro branco redondo, também originais de época, foram subtraídas e mesmo os postes de ferro fundido também foram sendo substituídos.

As lixeiras que encontramos hoje na praça não eram necessárias antigamente, já que os moradores não tinham o hábito de jogar lixo no chão.

Os bancos de madeira da época da inauguração eram diferentes dos que encontramos hoje, pois eram compostos com uma tábua para encosto e duas tábuas para assento.



A cobertura original do coreto era de telhas de barro cozido, ao contrário das folhas de zinco e a jardinagem procurava exibir floreiras coloridas, pequenos arbustos e folhagens, ao contrário das altas árvores a qual encontramos hoje.

Não sabemos as cores escolhidas na época da inauguração e não encontramos até o momento, registro oral capaz de assegurar a informação correta, mas tudo nos leva a crer que fossem brancas.


Independentemente das características originais terem desaparecido quase que por completo, ainda sim o coreto na praça da Matriz guarda muitos aspectos importantes para a revitalização da memória da população paraibunense.

Enfim, embora tenha sofrido várias descaracterizações arquitetônicas nestes mais de oitenta anos, a praça da Matriz ainda hoje serve como principal ponto de referência para encontros sociais, artísticos, políticos e religiosos da cidade de Paraibuna.

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Fotos: Coleção Walter Santos (disponíveis para cópia na Fundação Benedicto Siqueira e Silva)

. Paraibuna

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Paraibuna e as cidades do Vale do Paraíba do Sul


por Célio de Abreu


Há (dentre outros), certos equívocos que a população local teima em reiterar: que Paraibuna é um dos maiores municípios dos Estado e o maior do Vale do Paraíba paulista.

Duplo engano, sua área é a sexta maior do Vale e com relação a área de outros municípios do Estado deve estar na 10ª posição ou ainda além, visto o tamanho que é Presidente Prudente, Campinas, Jundiaí e outras.

E para que os visitantes deste BLOG saibam então como está recortado a área destes municípios na região onde nasce e corre o Paraíba do Sul, listamos abaixo as áreas (em quilômetros quadrados) dos trinta e nove municípios do Vale do Paraíba no Estado de São Paulo, segundo o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística:


. ..Cunha - 133.3 km2
. ..S. J. Campos - 114.2 km2
. ..Natividade da Serra - 84.8 km2
. ..Pindamonhangaba - 74.6 km2
. ..S. Luís do Paraitinga - 73.7 km2
. ..Paraibuna - 73.5 km2
... Guaratinguetá - 73.4 km2
... Ubatuba - 68.2 km2
.. . Bananal - 61.5 km2
10º ...Taubaté - 60.9 km2
11º ...São José do Barreiro - 60,0 km2
12º ...Caraguatatuba - 48.0 km2
13º ...S. Sebastião - 47.9 km2
14º ...Jacareí - 46.3 km2
15º ...Salesópolis - 41.8 km2
16º ...Silveiras - 41.2 km2
17º ...Lorena - 40.0 km2
18º ...Caçapava - 37.8 km2
19º ...M. Lobato - 33.8 km2
20º ...Ilha Bela - 33.6 km2
21º ...Redenção da Serra - 31.7 km2
22º ...Cruzeiro - 31.4 km2
23º ...Areias - 30.4 km2
24º ...Igaratá - 30.1 km2
25º ...Santa Branca - 28.9 km2
26º ...Campos do Jordão - 28.8 km2
27º ...Cachoeira Paulista - 27.7 km2
28º ...Lagoinha / S. Bento do Sapucaí - 25.7 km2
29º ...Queluz - 24.2 km2
30º ...Jambeiro - 19.8 km2
31º ...Tremembé - 18.5 km2
32º ...Piquete - 17.0 km2
33º ...Lavrinhas - 16.7 km2
34º ...S. Antônio do Pinhal - 14.1 km2
35º ...Arapeí - 13.8 km2
36º ...Roseira - 12.1 km2
37º ...Aparecida do Norte - 12.0 km2
38º ...Canas - 7.0 km2
39º ...Potin - 4.5 km2

Mapa:

http://www.cidadeaparecida.com.br/aparecida/municipio/cidade/mapavale.jpg.

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sábado, 14 de fevereiro de 2009

Histórico do município

. Paraibuna

por Célio de Abreu

O município está localizado na região geográfica denominada alto vale do Paraíba.

Alto vale, porque entre as montanhas da Mantiqueira e Serra do Mar, o rio Paraíba do Sul só passa a correr no médio vale, partir do município de Guararema.

Em seus mais de setecentos quilômetros quadrados, encontramos um rico manancial aqüífero e muitos rios importantes tem sua formação em nossa cidade.

No alto da serra do mar o grande rio Lourenço Velho, o Paraitinga do sertão e o Tietê, que recentemente passou a pertencer ao município vizinho de Salesópolis.

O Paraibuna e o Paraitinga formavam o Paraíba do Sul até meados dos anos setenta e conta ainda com dezenas de córregos, do Pinhal, dos Macacos, do Campo Redondo, do Jataí; os ribeirões Lavapés, do Cedro, do Rio Claro, do Salto, da Fartura e tantos outros.

O aglomerado populacional se iniciou logo após a vitória completa sobre os índios Tamoio, onde nas primeiras décadas do século XVII começaram a se dirigir para esta localidade os primeiros bandeirantes a procura de pedras e minerais preciosas.

Tempos depois, com um número razoável de famílias, o Governador de São Paulo ordena a fundação de Santo Antônio da Barra do Parahybuna, a barra, a qual se refere, é onde o rio Paraibuna se encontra com o rio Paraitinga e se forma o rio Paraíba do Sul.

Em momento histórico posterior, Paraibuna passa a receber pequenos agricultores ao longo das estradas que se ligava com a Capital para plantar roças de milho, feijão, mandioca, para oferecer pousada a tropeiros e mascates que vinham do sul de Minas Gerais e de São Paulo em direção ao litoral.

A produção e comércio de alimentos com as cidades vizinhas foi o grande responsável pela estabilidade econômica de Paraibuna por mais de cem anos, ciclo de progresso que começou a se extinguir no fim dos anos de 1960.

Num momento posterior, com o aumento da produção de café, abriram-se na cidade, nos bairros e estradas, muitos empórios de secos e molhados, vendas, armazéns e Paraibuna vê, ano a ano, sua população crescer e a produção de alimentos aumentar cada vez mais.

A riqueza do café que se iniciou a partir de 1830, durou até 1929, pois, anos antes, esta produção de café aumentou demais, pois outros países começaram a também cultivá-lo.... muita produção, pouco consumo.

Já nos primeiros anos de 1930, começam a chegar na cidade os primeiros pecuaristas vindo de Minas Gerais, com o objetivo de criar gado de leite e ano a ano, foram chegando mais famílias oriundas, principalmente da região sul de Minas.

Com a construção da represa em meados dos anos de 1970 as terras férteis de várzea foram sendo ocupadas pela água e muitos bairros desapareceram ou tiveram suas terras inundadas como Varginha, Remédio, Barra, Escaramuça, Mata Onça, Comércio e muitos agricultores e pecuaristas foram obrigados a abandonar suas propriedades.

Inicia-se um processo de empobrecimento financeiro que vem repercutindo decisivamente no dia a dia da cidade, que conta com hoje com o turismo para revitalizar sua economia, preservar sua história e conseqüentemente melhorar a qualidade de vida de sua população.
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Foto: Nelson Wisnik
. Paraibuna

um dilema

. Paraibuna
por Célio de Abreu


Há um dilema antigo a respeito da frase inscrita na portada do Cemitério Municipal de Paraibuna, onde se lê: "NÓS QUE AQUI ESTAMOS POR VÓS ESPERAMOS".

Há mais de um século os moradores dão suas versões a respeito desta frase aparentemente tão simples de se interpretar. Cada qual tem sua versão e eu, particularmente, também tenho a minha própria, a qual exponho a seguir.

A questão, a meu ver, é saber a quem se refere o “NÓS” e a quem se refere o “VÓS".

Se observarmos que a frase inteira está escrita em letras maiúsculas então este “NÓS” pode se referir aos falecidos lá sepultados à espera dos que ainda estão vivos aqui fora.

Mas, pode ser que a frase originalmente tenha sido idealizada com a primeira letra da sentença em maiúscula e, por questões estéticas ou, por facilidade ou descuido no processo de fundição das letras, todas tenham sido gravadas em maiúsculas.

Sendo assim, o "Vós" (com o V maiúsculo) pode estar se referindo a Deus, e o nós, em minúscula, pode estar se referindo aos mortos que estão em seus jazigos à espera de serem julgados e, alcançando a salvação, possam, um dia, ascender aos céus.

Resumindo: A frase se refere a quem está dentro esperando pela morte dos que estão fora ou, quem está dentro está a espera da salvação Divina.

Esta é minha interpretação para esta intrigante frase que emoldura a entrada do cemitério de Paraibuna.


Foto: Nelson Wisnik

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a Santa Casa de Misericórdia

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Foto: Nelson Wisnik
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o Instituto Santo Antônio

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Foto:Nelson Wisnik
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o Pelourinho


por Célio de Abreu


Não se pode falar em construção de prédio de Câmara e Cadeia, sem fazermos alguma alusão ao pelourinho, que servia de marco, desde o Brasil-Colônia, a moradores e forasteiros que na localidade havia Lei e se 'pagava caro' pela sua desobediência.

Mas como sabemos, os pelourinhos espalhados por todo Brasil acabaram por servir apenas para castigo e humilhação a negros, por faltas cometidas aos seus proprietários ou a terceiros.

Peça com aproximadamente três metros de altura com correntes e argolas de ferro no topo, tinha este nome, provavelmente por ter sob sua estrutura de pedra ou madeira de lei uma bola ou pelouro, aos moldes de antiga prática eleitoral ao qual se depositava o voto do eleitor dentro de um pelouro de cêra.

Não temos ainda com exatidão o local em que foi erigido este tronco, sendo que a tradição nos aponta dois locais diferentes: ou nas praças da Matriz, como encontramos na cidade de Salvador e outras, ou nos largos do Mercado, como encontramos na cidade de Porto Alegre.

Cremos que em nosso caso estava localizado onde está o coreto da praça da Matriz e não no Largo do Mercado ao lado da cadeia velha, local este, onde provavelmente se realizava os leilões e outros negócios com escravos.

Num documento encontrado em Paraibuna podemos ler: "...Aos 17 de fevereiro de 1865(... ) em minha presença (... ) por não ter encontrado lance para a mulatinha penhorada se fará outro leilão amanhã..."

Foto: Nelson Wisnik
. Paraibuna

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Paraibuna na Rede GPS do Estado de São Paulo

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Paraibuna faz parte da rede geodésica do Estado de São Paulo, que por sua vez é parte da rede brasileira e, indiretamente, da rede mundial.

A materialização da rede GPS do Estado de São Paulo se dá através da implantação de marcos geodésicos pelo Laboratório de Topografia e Geodésia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, e se presta à confecção do mapa geoidal do Brasil, e da América do Sul e a participação em diversas campanhas geodésicas internacionais.

Quem estiver interessado em saber mais sobre a Rede pode acessar o link no menu "sítios relacionados", onde se encontram isformações detalhadas.

O marco está localizado próximo à estação meteorológica da Usina Hidrelétrica de Paraibuna, na barragem acima da tomada d'água da casa de força,
tem acesso restrito e é protegido por lei.



As cidades que fazem parte da Rede são:

  1. Água Vermelha

  2. Avanhandava

  3. Botucatu

  4. Cachoeira Paulista

  5. Chuá

  6. Fernandópolis

  7. Franca

  8. Ibitinga

  9. Ilha Bela

  10. Ilha Solteira

  11. Itapetininga

  12. Itapeva

  13. Jabuticabal

  14. Limoeiro

  15. Marília

  16. Panorama

  17. Paraibuna

  18. Pirassununga

  19. Presidente Prudente

  20. Registro

  21. Salto Grande

  22. São José do Rio Preto

  23. São Paulo

  24. Taquarussú

  25. Valinhos
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Mapa e foto: Laboratório de Topografia e Geodésia, Escola Politécnica, USP
Paraibuna

sábado, 17 de janeiro de 2009

a Escola Municipal

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Foto: Nelson Wisnik.

o Mercado Municipal

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Foto: Nelson Wisnik
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a Câmara Municipal


por Célio de Abreu



Em todas as antigas paróquias ou freguesias, logo ao serem elevadas à categoria de Vila, por ordem Régia, seus moradores passavam a ter direito de levantar pelourinho, construir sua própria cadeia e escolher seus legisladores, bem como delegados, juízes de paz, juízes de órfãos, chefes da Guarda Nacional etc.

A possibilidade ou não da construção de edifício próprio para abrigar os camaristas, cabia ao próprio poder Legislativo contratar profissionais para levantar o taipal ou, como em nosso caso, esperar a construção de prédio próprio, contando com apoio da Secretaria de Segurança Pública do Estado da época.

Documentos antigos nos dão conta que no ano de 1833 os primeiros legisladores paraibunenses alugavam sala de antiga residência para realizar as sessões prédio este, que pertenceu por muitos anos à família Ferreira de Alvarenga.

Reuniões políticas e eleições para comando da Guarda Nacional, também passaram a ser realizadas nesta casa, que foi demolida no final dos anos de 1950 e, somente nos anos de 1856 é que, embalada pela elevação a sede de comarca, o Legislativo municipal passou a ter sua própria sede.

Foto: Nelson Wisnik

. Paraibuna

de Cadeia a Prefeitura

Paraibuna
por Célio de Abreu

A Cadeia Velha

O emblemático prédio da Cadeia Velha tinha sua porta principal voltada para o Mercado Municipal com formato de um típico casarão de fazenda senhorial de dois pavimentos, cobertura de quatro águas, paredes de taipa e divisórias de pau-a-pique e desta vez celas enchaveadas no lugar das senzalas, muitas características no século XIX.

A praticidade em se colocar no mesmo prédio o Poder Legislativo, o poder judiciário e as celas para o cumprimento de penas é sem dúvida tradição que remonta o período medievo- português e em Paraibuna não foi diferente.

Após ter seu território desmembrado de Jacareí em 1832, a freguesia de Santo Antônio do Parahybuna passou a ter o direito de construir, além do pelourinho, sua própria cadeia e votar em seus próprios vereadores, sendo assim, tais edifícios ficaram popularmente conhecidos como prédios de Câmara e Cadeia.

Ressaltamos que de início, a ainda pequena Vila, não tinha sede para as sessões do legislativo e comumente se alugavam salas para tanto.

O poder judiciário já se fazia presente e, logo em seguida, encurtando ainda mais os julgamentos no caso de negros fugidos, ladrões, ou mesmo estranhos sem morada certa, o suspeito era preso por ordem do legislativo, o judiciário julgava e caso condenado, o réu já descia para o andar térreo para cumprir a pena.

Em caso de crimes hediondos o acusado era conduzido a enxovia, outra tradição luso-medieval, que imputava ao condenado uma cela sem janela, sem iluminação, úmida e desprovida de qualquer tipo de latrina.

O mau tratamento dispensado a estes presos por parte das sentinelas e seus superiores e o sofrimento decorrente dos inúmeros miasmas contraídos nestas enxovias, era assunto sabido por todos e as mortes nestas celas estavam sempre presentes na memória das crianças e jovens da cidade.

Uma energia pesada já começa ser formada, certamente com sofrimento dos escravos que labutavam para levantar o gigantesco taipal volta de 1840 e foram transcritos numa poesia de 1923 de um antigo morador local:

“...e em derredor da praça, o Casarão / que o negro suarento edificou / lembrança cruel da raça perseguida / que irrigou com seu suor o barro da taipa batida...”

Estes cativos que levantaram o prédio, não raramente com chicote de couro cortando as costas, ergueram as celas para que a justiça ordenasse a prisão deles próprios, como encontramos em outro antigo documento do poder judiciário de Paraibuna:

“ ...Augusto Ferreira Braga (...) affirma lhe pertencer o escravo de nome Jorge que se acha preso nesta cadêa ( ...) requer seu mandato de soltura...”

O mesmo sofrimento e as mesmas mortes vistas nas prisões da Europa, também se viu por aqui, alimentando o repertório das lendas e “causos” locais.

E ainda a poesia:

“Sobre a cadeia o Tribunal / casarão de terra socada / de masmorras medievais / guardam histórias nunca reveladas/ Ao lado, as figueiras, que gozavam de má fama, de assombradas / e nas horas mortas quem se aventurasse a cruzar a velha praça / escutava o gemer fúnebre das almas penadas”.

As salas e celas deste antigo prédio teriam servido aos mais diversos fins após a transferência dos presos para a cadeia nova em 1906 numa pequena elevação pouco mais de quinhentos metros desta.

O ex-prefeito José Ozias Calazans de Araújo teria sido o último a ocupar o prédio como sede do Executivo entre 1961- 1965, em 1943 Isidro Domingues da Silva o teria utilizado como tipografia do Jornal “O Parahybunense”, o Grupo de Escoteiros teve lá seu Quartel na década de 20.

O ex-prefeito Jayme Domingues o teria utilizado como oficina mecânica, almoxarifado e depósito de materiais do setor de obras, o Batalhão Parahybuna teve ali sua sede durante a revolução de 1932, o Major José de Oliveira Santana ocupou a sala do Judiciário e sua sala de júri serviu as mais diversas solenidades.

A Cadeia Nova

A cadeia nova, concluída cinqüenta anos depois, em 1906, trazia em seu corpo inovações práticas e decorativas com relação ao sistema de cárcere.

Guardas uniformizados, grades de ferro ao invés de grades de madeira, estrutura de tijolos cozidos com cunhais imitando blocos de pedra e não paredes de taipa, flecheiras guarnecendo o topo do prédio, muros altos ao redor com uma só entrada e saída, portão de ferro de forma a retratar uma fortaleza sólida, austera e intransponível.

O novo prédio desvinculou-se do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, criando-se novas incumbências com relação à reclusão e o engenheiro (Euclides da Cunha ?) procurando uma nova plástica para seu desenho, retratando as mesmas formas das cadeias de Mogi das Cruzes, Jacareí, Silveiras e Ilha Bela.

Seu interior estava dividido da seguinte forma: no andar superior, a sala do corpo da guarda, sala do comando, da administração e os dormitórios das sentinelas.

No piso térreo um extenso corredor com as celas dos dois lados para homens e provavelmente apenas uma para mulheres e as enxovias com piso de pedras.

O andar superior provavelmente era servido por candeeiros e lampiões a óleo de mamona, pois a iluminação elétrica só viria sete anos depois, em 1913.

Um sino do lado esquerdo do prédio no andar superior servia, conforme o toque, para comunicar aos presentes qualquer anormalidade que porventura ocorresse, tais como incêndio, troca de guarda, fuga de prisioneiros etc..

O corredor das celas nos faz lembrar o prédio da Câmara e Cadeia da cidade de Ouro Preto, onde, de gargalheira de ferro ao pescoço em 1798, o Alferes Joaquim José da Silva Xavier foi preso, julgado e condenado, no local onde hoje se encontra um dos museus mais expressivos do Brasil, o Museu da Inconfidência.

Estas são, em resumidas palavras o histórico desta localidade que presenciou em pouco mais de cem anos, uma complexa relação entre os membros da classe dominante, que criavam e executavam as penas e os menos afortunados da sociedade, lavradores, empregados do comércio, caipiras e agregados.

Foto: Nelson Wisnik

. Paraibuna

a mais antiga na praça central

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Foto: Nelson Wisnik
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uma das mais antigas

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Foto: Nelson Wisnik
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o Largo da Bica - O início do Primitivo Aglomerado Urbano

Paraibuna
por Célio de Abreu


Os documentos mais antigos até agora encontrados de toda a área denominada Largo da Quitanda, abrangem as popularmente conhecidas rua da Bica, - rua Pe. Antônio Pires do Prado – e rua Dr. João Fonseca de Camargo e rua Oscar Thompson e estão descritas no arrolamento do espólio da viúva do Capitão Manoel Correia de Mesquita.

Ela, Dona Anna Joaquina de Sousa Mesquita falecida no ano de 1871 e posteriormente consta no inventário de seu marido em 1878 ( 1 ).

Este quinhão de terras teriam pertencido anteriormente em sua integridade, ao então Padre Valério de Ferreira Alvarenga, que aqui já residia em 1815 ( 2 ), quando adquiriu a Fazenda do Rio Claro, importante chefe político local, foi Deputado Provincial e membro do Conselho de Pedro I. ( 3 ).

Esta localidade era conhecida como “rossio” ou chácara do Padre Valério ( 4 ) que tinha residência na praça da Matriz no ano de 1842 ( 5 ) sendo que este “rossio” compreendia uma área muito maior do que a que se apresenta atualmente o Parque Ecológico Municipal.

Logo, o beco da Bica está estritamente ligada ao início do núcleo urbano do então povoado do Paraibuna, tão logo tivesse sido iniciado a distribuição de Cartas de Sesmarias ( 6 ) a moradores principalmente de São Sebastião, Taubaté e principalmente de Jacareí, a qual estava juridicamente anexada.

Mas o caminho que ligava São Paulo de Piratininga ao Rio de Janeiro, já cortava estas terras muitos anos antes ( 7 ) acompanhando as antigas trilhas dos índios, trilha esta, que seria utilizada durante quase todo período cafeeiro no século XIX.

A desanexação da então Santo Antônio da Barra do Parahybvna, só se daria em julho de 1832, mas não sem antes causar muitos impasses ( 8 ) entre a velha Vila de Nossa Senhora da Conceição de Jacareí e a nova Vila de Santo Antônio, embates que estavam ligados à questão comercial, já que a elevação de Paraibuna a condição de Vila, interferia diretamente na ligação de Jacareí com os portos do litoral.

O tráfego, portanto, passava pelas novas terras, sendo que, obedecendo à marcha estradeira de 4 léguas, as tropas de muares, em algum lugar teria que “fazer paragem” em um pouso seguro, com abundância água, roças de milho para tropa e tropeiros, local fechado para “currar” os animais ( 9 ) e rancho coberto.

Podemos apontar neste exato lugar o início do primitivo aglomerado urbano, justamente nesta região que tinha no Largo da Bica, o ponto principal, pois era, e é a água, que provê a vida de homens e animais, sendo portanto o local desta fonte, popularmente denominada Bica, conjuntamente com o Mercado, a Igreja da Matriz, a Igreja do Rosário e o Cemitério, os cinco principais marcos históricos desta cidade.

Nesta localidade, que outrora foi à porta de entrada da cidade (...) um terreno (...) na frente a Cidade, sito, na rua da bica ”, (10) foram se estabelecendo as principais casas de comércio, vendas, armazéns de secos e molhados, ambulantes, comerciantes de excedentes, negociantes, vendedores, bares, pousadas e pastos de aluguel.

Embora não existam mais tais pastos de aluguel, as famosas pensões ou pousadas, ainda se apresenta preservada na rua Dr. João Fonseca, na esquina do beco da Bica.

Uma destas antigas construções serviram em tempos remotos como pousadas, sabe-se disto atravéz de história oral, contada por membros de um de seus antigos proprietários.

Este conjunto de prédios já existia na virada do século retrasado e felizmente ainda se encontram preservadas quase todas as suas características originais.

O madeirame, as divisórias, o mobiliário, bem como sua estrutura interna e externa, representando com isto um raríssimo exemplar da arquitetura roceira paulista ( 11 ).

A denominação da rua da Bica vem mudando a mais de cem anos; rua da quitanda, no século XIX, rua 15 de novembro no início do século XX, ou a atual Pe. Antônio Pires do Prado.

Talvez não mais como quando Paraibuna era mais conhecida como “o celeiro do Vale”, mas ainda sim, para esta região que se dirigem semanalmente os mais diferente cidadãos com os mais diferentes propósitos.

Podemos notar, neste resumido histórico, mesmo com um relato preliminar, a importância deste local para a memória histórica da população paraibunense, não só com relação à identificação que os cidadãos preservam deste Largo, mas também devido à importância que se apresenta como o mais movimentado centro financeiro da cidade (12).

As histórias do passado e do presente se entrelaçam continuamente, proporcionando aos visitantes um pouco ainda da atmosfera caipira da cidade, onde ainda se encontram produtos artesanais dos mais diversos.

Tal localidade nos remete as antigas práticas comerciais do tempo dos tropeiros, que traziam divisas, notícias, utensílios diversos e viajantes, promovendo o intercâmbio com as cidades do litoral norte, do vale do Paraíba e sul de Minas.

Portanto a preservação da memória comercial está contida instintivamente no imaginário coletivo do paraibunense, acrescentando-se ainda, o Largo do Mercado Municipal (13) que vem contribuindo ainda hoje, com a mais expressiva manifestação cultural da cidade.

Notas:

(1) Além de muitas terras da Fazenda Conceição (...) bens móveis e de raiz (...) uma morada de caza nesta cidade, sito a rua da Bica, com terreno contíguo (...) e que foi visto e avalliado por 500$000 mil réis” (...) outro terreno cercado de taipa (...) na rua da Bica pelo lado de sima que foi visto e avalliado por 200$000 mil réis”.

Em petição nas fls.100 / 101, o coherdeiro, filho do citado, João Correia de Sousa Mesquita requer o terreno da rua da Quitanda com o pasto adjunto, mais o escravo Valentino e o terreno da Bica, bens de sua falecida mãe Anna Joaquina, datado em 24 de julho de 1871.

Com o falecimento do Cap. Manoel Correia de Mesquita, deixa a seus herdeiros além de outros bens (...) hum terreno no Largo da Quitanda, dividindo pelo lado de cima com terrenos da Câmara Municipal.” Inventário do Cap. Manoel Correia de Mesquita, Cartório de 1º Ofício da Comarca de São Sebastião maço nº 1, in “ Os Mesquitas de Paraibuna “ Wanda Mello de Hollanda, Ed. World Paper, Sorocaba SP, 2004.

(2) Livro de Assentos de Óbitos da Freguesia de Santo Antônio de Parahybuna, Cúria Diocesana, São Dimas, São José dos Campos SP.

(3) Apontamentos para a Província de São Paulo Tomo I, Eufrázio de Azevedo Marques,1886 / A Posição política de Paraibuna durante a Revolução Liberal; Célio A. Freire Jr., Jornal, “O Paraibunense”, nº 17, 1998.

(4) Almanack de Paraibuna, Francisco Campos, Tipografia Parahybuna, 1909.

(5) Parahybuna e o Centenário de sua Autonomia Administrativa, João Caldeira Netto, Ed. Cruzeiro do Sul, !932.

(6) Repertório de Sesmarias, Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, 1998.

(7) Morte e vida do tropeiro, Aluízio de Almeida, Ed. Cruzeiro do Sul, Sorocaba, 1975.

(8) Jacareí e as questões controvertidas, Benedicto Sérgio Lencioni, Ed. Santuário, 1996.

(9) Morte e vida do tropeiro, op. cit.

(10) Inventário do Cap. Manoel Correia de Mesquita, op. cit.

(11) Morada Paulista, Luís Saia, Coleção Debates, Editora Contexto, São Paulo, 1994.

(12) Além de centenas de residências, a área que compreende o Largo do Mercado e o contíguo Largo da Bica encontram-se os seguintes estabelecimentos:

padarias 2,
farmácias 1,
dentistas 5,
secos e molhados 15,
restaurantes 5,
loja roupas 4,
loja tintas 2,
bicicletarias 1,
produtos agropecuários 2,
supermercado 1,
imobiliária 1,
loja de ferragens 2,
salão de beleza 2
eletrodomésticos 1,
brechó de móveis 1

Foto: Nelson Wisnik

Paraibuna

o rio Paraiba do Sul atravessa a cidade

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O rio Paraiba do Sul atravessa a cidade, que antes era atravessada pelo rio Paraibuna. Este encontrava o rio Paraitinga mais a jusante, bem próximo à cidade, formando o rio Paraiba do Sul.


Nesta foto, dos anos 50, podemos ver o rio Paraibuna em primeiro plano, no centro da foto o encontro com o rio Paraitinga, vindo de cima à direita, formando o rio Paraiba do Sul, que segue à esquerda, com a construção da barragem da hidrelétrica os rios Paraibuna e Paraitinga passaram a desaguar no lago por ela formado.

Atualmente as águas que saem da barragem, a montante da cidade, passaram a ser consideradas então como sendo o rio Paraiba do Sul.

Fotos: Nelson Wisnik (rio Paraiba do Sul) e autor desconhecido (encontro dos rios)
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bucólica

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Foto: Nelson Wisnik

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o Brasão de Armas de Paraibuna

Paraibuna
por Célio de Abreu



Assim como o nome de muitos municípios espalhados pelo mundo, o nome de nossa cidade tem sua origem nas tradições lingüísticas dos primitivos habitantes locais, os Tamoio.

O brasão da cidade também traz algumas referências às histórias da antiga Paraibuna do século XVI.

A Corôa

Acima do brasão, temos a Corôa que faz referência a Portugal, país que descobriu estas terras no ano de 1500, e acima dela o pássaro Martim Pescador, o Ariramba, como os nativos o chamavam.

Cabe aqui um comentário sobre o estudo de heráldica.

Nem este pássaro, nem qualquer outro elemento pode estar estampado acima da coroa do país colonizador, assim como por exemplo, não encontramos nada acima das coroas dos brasões de nossos vizinhos de origem espanhola.

Campo de Golês

As várias cores deste campo tem significados diferentes e a cor vermelha representa o sangue derramado de algum mártir ou outro motivo que esteja ligado diretamente ao processo de organização social de uma vila, um povoado, uma aldeia, uma freguesia etc.
Com referência ao nosso caso, a cor vermelha se refere ao sangue derramado nas batalhas entre os Tamoio, Tamuya, Tamujo e os colonizadores portugueses.

Os Rios

A letra Y invertida em cor prata representa nossos principais rios, também com denominação indígena, Paraitinga, Paraibuna e o Paraíba que traduzidos do tupi, para o português, são os ‘rios de água clara’, ‘rios de água escura’ e ‘rio ruim, de água ruim ou difícil de navegar’.

O Elemento Peixe

Dentro destes rios encontram-se três peixes da espécie Piabanha (Brycon insignis).

Assim como no caso do Martim Pescador, não podemos denominá-los como sendo da espécie piabanha, pois o estudo de heráldica prevê neste campo prata apenas a existência de peixes, de leões, veados, ursos, sem, no entanto denominá-los com designações de espécie.

Os Morros

O morro na segunda metade inferior, diz respeito ao serrote da samambaia, um prolongamento da serra da Bocaina, que tem seu ponto mais alto próximo à cidade de Areias, Bananal e seu fim próximo à fazenda Serrote, próximo à divisa de Paraibuna com o município de Santa Branca.

No sopé deste ‘serrote’, nos córregos que deságuam no ribeirão dos Três Monjolos próximo ao rio Paraíba do Sul, no bairro do Itapeva em 1597 o português Martim Correia de Sá e seus homens fazem registro de lavras de pequenas pedrinhas de ouro –Itapeva- ou ‘pepitas’ como se diz em língua espanhola e que dá nome a um bairro local.

E depois atravessaram esta serra e chegaram à futura Nossa Senhora das Dores do Capivary (Jambeiro) e depois passaram por São José dos Campos seguiram em direção a serra da Mantiqueira procurando o rio Sapucaí.

O Animal

Outro equívoco presente em nosso brasão é a presença de um boi Zebu também na parte inferior do escudo, já que como citado acima, não há a referência desta espécie de animal na ciência heráldica, apenas encontramos gaviões, ursos, leões, veados etc.

As Ramas

Ao lado do Brasão temos duas ramas, uma de café e outra de cana de açúcar.

Com relação à produção de café é inegável que Paraibuna tenha em alguns períodos, figurado entre as maiores produtoras desta rica rubiácea no século XIX.

Com relação à produção de açúcar, ainda não dispomos de registros que nos apontem Paraibuna como grande produtora de derivados de cana de açúcar sobre o nome de algum engenho, seus proprietários, onde o açúcar era comercializado, produção etc.

A única informação encontrada até o momento é o estabelecimento de um engenho em Paraibuna registrado por Daniel Pedro Muller em seu ‘Ensaio Chorográfico da Província de São Paulo’, relatando que nesta localidade existia no ano de 1836 um engenho de açúcar.

A Cártula

Devido à qualidade da água de nosso subsolo, sua abundância, bem como seu rico e extenso manancial aqüífero, Paraibuna faz jus ao lema Super Flumina, que em latim significa Sobre as Águas, inserido na cártula na parte inferior do Brasão.

Uma curiosidade: Com o levantamento do nível dos rios represados no final dos anos 70, Paraibuna, ao contrário deste, passou a ficar abaixo do nível das águas.



Foto: Nelson Wisnik.

Paraibuna